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PPR ou fundo de investimento? Nem sempre os benefícios fiscais valem a pena

Se os fundos renderem um pouco mais do que os planos de reforma, podem mais do que compensar a desvantagem fiscal.

Por David Almas a 1 de maio de 2021

Percebe-se facilmente o sucesso comercial dos planos de poupança-reforma (PPR): têm uma fiscalidade muito generosa. Primeiro, há uma dedução à coleta de 20% das aplicações até ao limite anual de 400 euros por aforrador com menos de 35 anos, 350 euros entre 35 anos e 50 anos e 300 euros para os maiores de 50 anos, desde que ainda não esteja na reforma.

Depois, quem resgatar nas condições legais paga uma taxa de tributação de 8% sobre os rendimentos. É extraordinariamente baixa. Essas condições incluem:

Adicionalmente, também são condições legais desde que o investimento dure mais de 5 anos:

Não mergulhe, no entanto, logo nos PPR sem confirmar que ganhará mais do que num instrumento alternativo, como um fundo de investimento.

Faça as suas contas

Comecemos pelo dinheiro que tem para investir hoje, €. É importante saber este número para contabilizar a dedução à coleta que conseguirá no IRS deste ano.

Como foi explicado antes, essa dedução é, no máximo, equivalente a 20% do montante investido (400€), mas não pode ultrapassar 300 euros, 350 euros ou 400 euros, consoante a sua idade. Infelizmente, essa dedução concorre com outras deduções — como despesas de saúde e de educação, seguros de saúde e encargos com imóveis —, por isso é possível que seja inferior. Aliás, as estatísticas mais recentes mostram que os agregados familiares conseguem, em média, cerca de 150 euros.

Se tiver dúvidas quanto a essa dedução, use o simulador do Portal das Finanças. Por exemplo, pode simular a entrega de IRS do ano passado, caso tivesse declarado um investimento equivalente em PPR.

Avancemos com uma dedução à coleta de €.

Nem sempre deve registar o PPR na declaração anual de IRS. Se acreditar que não conseguirá resgatar o plano nas condições legais, não o inclua. Se o fizer, terá de devolver a dedução à coleta que recebeu acrescida de 10% por ano desde a subscrição até ao reembolso. (Se deseja não declarar, insira zero no campo anterior.)

Uma questão de tempo

Um dia pode fazer muita diferença quando se investe num PPR. Basta passar 1 dia dos 5 anos após a subscrição para a taxa efetiva de tributação descer de 21,5% para 17,2%, caso o reembolso seja feito fora das condições legais. Quando o prazo atinge 8 anos e 1 dia, volta a cair para 8,6%.

Para estes cálculos, vamos prever uma duração do investimento de  anos,  meses e  dias.

O retorno é, naturalmente, também muito importante. Que rentabilidade anual bruta espera do PPR? Os planos mais conservadores — aqueles que garantem o capital e uma rentabilidade anual mínima — normalmente rendem menos no longo prazo. Os mais agressivos — agora já há PPR que investem totalmente nos mercados acionistas — podem produzir maiores retornos para os investidores de longo prazo, mas são mais voláteis.

O desempenho histórico dos 113 PPR disponíveis para comercialização pode ajudar a estimar a sua rentabilidade. Nos últimos 5 anos, renderam, em média, 1,61%. Consideremos uma rentabilidade anual de %.

As rentabilidades podem, todavia, ser truncadas pelos encargos dos PPR. Nem todos cobram comissões de subscrição e de reembolso, mas ainda há alguns que apresentam essas despesas. Pode descobrir essas percentagens nos documentos legais do PPR que eleger para o seu futuro. Descontemos uma comissão de subscrição de % e de reembolso de %.

Assim, se solicitar o reembolso na forma de capital nas condições legais, a rentabilidade anual líquida do investimento no PPR será de 4,19%. Fora das condições legais, a rentabilidade anual do PPR desce para 4,17%. Estes números assumem um desafasamento de  meses no recebimento da dedução à coleta.

É bom ou mau? Compare

Os PPR são frequentemente muito conservadores e carregam normalmente encargos mais altos do que produtos alternativos. É natural que os fundos de investimento no mesmo espectro de risco atinjam rentabilidades superiores. Assumamos que o fundo no qual poderá investir em alternativa ao PPR renderá % por ano. Isso é mais 2,3 pontos percentuais por ano do que o PPR.

Faltam os encargos desse fundo: tem uma comissão de subscrição de % e de resgate de %.

As mais-valias dos fundos de investimento são normalmente tributados à taxa autónoma de 28%. Há, por vezes, a aplicação de um coeficiente de correção monetária quando a duração do investimento ultrapassa 24 meses. Grosso modo, esses ganhos são apenas tributados na parte que ultrapassa a inflação. Incluamos uma inflação anual para efeitos do coeficiente de correção monetária de %. (Os fundos de investimento mobiliário — de ações, de obrigações ou misto, por exemplo — não beneficiam do coeficiente de correção monetária, por isso insira um zero se for esse o caso.)

Com esses números, deve esperar uma rentabilidade anual do fundo de investimento de 4,2%, assumindo o pagamento do imposto meses depois do resgate. O fundo renderá mais do que o PPR.

Legislação relevante

As regras fiscais dos PPR e dos fundos de investimento são diferentes — e complexas. Esta é a legislação mais importante:

A análise anterior foi simplificada para os contribuintes singulares residentes em Portugal. A realidade é, naturalmente, mais complexa: além de os aforradores poderem ter residência no estrangeiro, é possível englobar as mais-valias no IRS, os investidores tendem a fazem vários investimentos ao longo do tempo, podem ter vários instrumentos que produzam mais ou menos-valias no mesmo ano fiscal e os fundos de investimento podem realizar distribuições de rendimentos aos participantes. ★