Um milhar de PPR. Nenhum merece a sua atenção

Por David Almas a 1 de junho de 2025

Imagine que, nos finais de 2014, teria a infeliz ideia de subscrever o BPI Reforma Investimento PPR, um plano de poupança-reforma que investia maioritariamente no mercado obrigacionista. Nos 5 anos anteriores, o retorno não tinha sido surpreendente — 2,57% por ano —, mas tinha ultrapassado uma crise financeira com sucesso.

Dez anos após investir 1000 euros, o saldo nesse PPR seria de 1003,01 euros. Teria aumentado o seu poder de compra em 0,03% por ano. A subida de preços teria roubado, todavia, 2% por ano, segundo os números do Instituto Nacional de Estatística. A sua poupança de reforma teria menos poder de compra do que o dinheiro que tinha investido 10 anos antes.

Há mais de 15 anos que critico os PPR. Escrevi, inclusivamente, um livro sobre o assunto com o meu saudoso amigo Joaquim Madrinha. Não julgue, porém, que, para arrancar com este artigo, fui buscar o pior exemplo que encontrei na última década. Há situações piores.

Os clientes do Banco BPI poderiam ter selecionado o BPI Reforma Segura PPR, que investia essencialmente no mercado obrigacionista. Após 10 anos, o investimento inicial de 1000 euros transformar-se-ia em 955,08 euros.

A BPI Gestão de Ativos recomenda este PPR — que, entretanto, passou a chamar-se BPI Reforma Obrigações PPR/OICVM — para mais de 5 anos, mas, após uma década, teria perdido 0,46% por ano. Todos os aforradores que investiram nos últimos 13 anos, excluindo desde fevereiro de 2022, estão a perder dinheiro.

Juntos, o BPI Reforma Investimento PPR/OICVM e o BPI Reforma Obrigações PPR/OICVM têm mais de 100 mil subscritores.

Também há perdas decenais no resto da indústria financeira portuguesa. Uma aplicação de 1000 euros no PPR BBVA, também focado no mercado obrigacionista, quando 2014 terminou teria acumulado 903,39 euros após 10 anos, descontando as comissões de subscrição e de reembolso na aposentação. A perda anual deste plano — que agora se designa BBVA Estratégia Acumulação PPR — seria de 1,01%.

O pior exemplo é, porém, da Generali: o PPR Investimento, que já não está em comercialização, teve um retorno anual de −1,07% por ano na década que terminou no final de 2024, assumindo a comissão de subscrição de 0,5%.

Decadência

Juntei as recentes bases de dados de PPR divulgadas pela Autoridade de Supervisão de Seguros e de Fundos de Pensões, que incluem as modalidades de seguros e de fundos de pensões, às estatísticas que coligi sobre os PPR na versão de fundos de investimento, cortesia da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, para me surpreender.

Não foi apenas o PPR Investimento, o BBVA Estratégia Acumulação PPR e o BPI Reforma Obrigações PPR/OICVM que tiveram retornos negativos nos últimos 10 anos: 17 PPR registaram resultados negativos ou nulos na última década.

Pior: mais de metade dos PPR renderam menos do que o que a inflação tirou ao poder de compra dos portugueses. Perceba-se bem: os subscritores da maioria dos PPR conseguem comprar agora menos coisas com o dinheiro que retirariam do PPR do que comprariam há 10 anos com o dinheiro que investiram.

O parágrafo anterior é também verdadeiro para o prazo de 1 ano, 3 anos e 5 anos. Surpreenda-se comigo: 99% dos PPR ganharam menos do que a inflação no triénio de 2022 a 2024.

Consulte as rentabilidades históricas e as principais comissões dos 1017 PPR no quadro que adicionei após este texto.

A miragem dos benefícios fiscais

Quero acreditar que os 2,2 milhões de subscritores de PPR sabem quanto rendem os seus planos. Por que terão 18 mil milhões de euros maioritariamente em soluções que pouco rendem? Há quem defenda que os benefícios fiscais são os culpados.

Quando se subscreve um PPR, é possível registar anualmente uma dedução à coleta de IRS de até 20% do investimento, com os seguintes limites em função da idade do subscritor: 400 euros até aos 35 anos, 350 euros para quem tem entre 35 e 50 anos e 300 euros para os maiores de 50 anos, desde que não estejam aposentados.

Essa dedução concorre, todavia, com outras, como as atribuídas às despesas de saúde e de educação e aos encargos com rendas e lares. Na prática, a maioria não deve conseguir maximizar a dedução à coleta dos PPR para 400 euros, 350 euros ou 300 euros.

No reembolso, a tributação das mais-valias desfruta de uma taxa reduzida de 8% nestas condições legais:

• Desemprego de longa duração do subscritor ou de outro membro do agregado familiar.
• Incapacidade permanente para o trabalho do subscritor ou de outro membro do agregado familiar.
• Doença grave do subscritor ou de outro membro do agregado familiar.
• Quando o investimento tiver durado mais de 5 anos:
  • Reforma por velhice do subscritor.
  • Após os 60 anos do subscritor.
  • Pagamento de prestações de crédito com hipoteca sobre a habitação própria e permanente do subscritor.

Se essas condições não forem cumpridas, a taxa de tributação também pode ser reduzida: de 21,5% quando o investimento dura até 5 anos, de 17,2% entre 5 e 8 anos e de 8,6% quando passaram mais de 8 anos entre a subscrição e o resgate.

Se o investidor beneficiar da dedução à coleta do IRS oferecida pelo PPR e se resgatar fora das condições listadas, terá de devolver ao fisco essa dedução acrescida de 10% por cada ano que tenha passado desde a subscrição.

Iniciei este artigo com os piores casos de PPR. Todavia, tendo em conta esta descrição fiscal, quanto é que realisticamente deverá ter ganhado um aforrador nos últimos 10 anos?

Suponhamos que, em 2014, aos 56 anos, um investidor planeava a sua aposentação em 2024. Queria também maximizar a devolução que obteria após submeter o IRS no ano seguinte. Optou, naturalmente, por adquirir um PPR: subscreveu 1500 euros a contar que obteria uma dedução à coleta de 20% dessa aplicação, 300 euros. Porém, as estatísticas da Autoridade Tributária e Aduaneira mostram que, em 2014, os agregados familiares que declararam a subscrição de PPR conseguiram, em média, uma dedução de 77,67 euros.

Se esse PPR se revelasse mediano, renderia 1,70% por ano: metade dos 766 planos com mais de 10 anos rendeu mais; a outra metade rendeu menos. Contabilizando a subscrição, uma comissão de subscrição de 1%, a dedução à coleta de 77,67 euros a meio do ano seguinte, o reembolso e a retenção na fonte sobre os ganhos após 10 anos, a sua rentabilidade anual líquida seria de 2%.

Apesar dos benefícios fiscais, o seu PPR garantir-lhe-ia apenas o poder de compra da poupança, porque os preços dos bens e serviços em Portugal aumentaram também 2% por ano entre 2014 e 2024. Não é um bom registo.

Mais recentemente, as famílias conseguiram mais deduções dos PPR. Nos últimos anos, acumularam, em média, cerca de 200 euros. Note, todavia, que se trata de uma dedução média por agregado familiar e não por subscritor; os agregados podem ter mais do que um subscritor.

Se investiu e declarou PPR no Modelo 3 de IRS nos últimos anos e se os seus rendimentos e as suas despesas continuam idênticos, use como guia uma recente demonstração de liquidação de IRS para saber quanto poderá aproximadamente deduzir na próxima declaração fiscal.

Obtenha a demonstração de liquidação na área de IRS do Portal das Finanças, selecionando “Consultar declaração” no menu, optando pelo ano que quer consultar, clicando em “Ver detalhe” e, posteriormente, no número de liquidação. Na última página desse documento, encontra a dedução que conseguiu com PPR.

Quem nunca perde

Não me incluo entre os que acreditam que os benefícios fiscais são a única explicação para o sucesso comercial dos PPR. António Bagão Félix, ministro das Finanças e da Administração Pública do governo de Pedro Santana Lopes, eliminou as deduções à coleta dos PPR no final de 2004. Ao contrário do que se poderia esperar, o valor aplicado nos PPR aumentou 18% em 2005, ultrapassando pela primeira vez a barreira dos 10 mil milhões de euros.

Hoje, penso que o êxito dos PPR se deve essencialmente ao esforço comercial dos bancos e das companhias de seguros e à inércia dos aforradores. Quando nasceram, em 1989, os benefícios fiscais dos PPR eram realmente bombásticos: era possível deduzir ao rendimento coletável todo o montante aplicado até 500 contos (2493,99 euros), desde que não se ultrapassasse 20% do rendimento bruto.

Desde então, os portugueses habituaram-se a acreditar que os PPR são boas soluções para os seus patrimónios, apesar dos sucessivos cortes nas deduções à coleta e dos fracos resultados alcançados.

Os bancos e as companhias de seguros aproveitam-se da situação, naturalmente. Se, em média, a comissão de gestão dos PPR for de 1% por ano, faturam mensalmente 15 milhões de euros.

Há, porém, quem se aproveite mais da ignorância dos subscritores. O regulamento do PPR SGF Doutor Finanças prevê uma comissão de gestão de 0,92% por ano, acrescida de 10% da valorização anual do fundo. A sociedade gestora, Golden SGF, comunicou ao supervisor que, em 2024, os encargos do PPR SGF Doutor Finanças — a comissão de gestão e a comissão de depósito — absorveram 5,38% do património dos investidores.

O PPR Doutor Finanças rendeu 17,99% em 2024. Se os subscritores tivessem investido diretamente nos 3 fundos de índice na carteira desse plano no início desse ano, teriam ganhado 26,47%, excluindo despesas de negociação e custódia.

As sociedades gestoras têm ainda outras fontes de rendimentos para engrossar os seus cofres, como as comissões de subscrição e de reembolso. Mais de metade dos PPR têm comissões de subscrição de 0,8% ou mais. É, porém, cada vez mais raro a cobrança de comissão de reembolso quando o aforrador cumpre as condições previstas na lei.

Menos maus

Se chegou até aqui neste artigo, é porque provavelmente não está interessado em descobrir os PPR mais fracos, os encargos mais elevados nem a ilusão dos benefícios fiscais; quer conhecer os PPR mais rentáveis.

No grupo dos PPR em comercialização, selecionei os únicos que conseguiram ficar entre os três mais rentáveis nos últimos três, cinco e dez anos para aprofundar esta análise.

Excluí da lista anterior o seguro Flex+ PPR — Estratégia Dinâmica Ações, gerido pela Ageas, porque, durante vários meses após o seu lançamento, a cotação deste produto não se mexeu, o que indicia que a gestão começou efetivamente há menos de 3 anos.

Não recomendo PPR. Os subscritores que leram o “Onde investir em 2025”, que publiquei na passada edição de janeiro do boletim tlim, sabem que as minhas recomendações de investimento assentam essencialmente em fundos passivos para o longo prazo.

Neste artigo, comparo os ganhos dos PPR mais rentáveis com o avanço de uma carteira composta por dois dos fundos que recomendei há cinco meses: o SPDR MSCI World UCITS ETF (SPPW no Xetra), um fundo de índice de ações dos mercados desenvolvidos, e o iShares Core Global Aggregate Bond UCITS ETF EUR Hedged (EUNA), um fundo de índice de obrigações mundiais com cobertura cambial para euros.

Construí carteiras compostas pelo SPPW e pelo EUNA. Fi-lo de modo que a volatilidade histórica dessas carteiras se aproximasse da volatilidade dos PPR nos últimos cinco anos (ou desde que foram lançados). Os desempenhos teóricos das carteiras de fundos de índice assumem o rebalanceamento mensal.

Teria usado idealmente como referência os fundos Vanguard LifeStrategy (como o Vanguard LifeStrategy 80% Equity UCITS ETF (EUR) Accumulating), a minha principal recomendação, mas ainda não celebraram o quinto aniversário.

As classes do Save & Grow PPR/OICVM lideram os retornos dos PPR em comercialização no triénio de 2022 a 2024. Ficaram, todavia, muito aquém do desempenho do SPDR MSCI World UCITS ETF. O BPI Reforma Global Equities PPR/OICVM conformou-se com um lugar ainda mais atrás. Estes PPR investem no mercado acionista.

As rentabilidades anuais nem sempre transmitem a disparidade de retornos: o Save & Grow PPR/OICVM Founders subiu 56,03% desde o seu lançamento, em outubro de 2021; o SPDR MSCI World UCITS ETF escalou 80,97% no mesmo período.

As deduções à coleta podem ter um impacto significativo no curto prazo. Se um dos primeiros subscritores do Save & Grow PPR/OICVM que tenha conseguido uma dedução de 400 euros numa aplicação de 2000 euros resgatasse hoje a sua aplicação financeira, teria uma rentabilidade anual líquida de 14,12% ao contabilizar esse benefício fiscal e a tributação mínima da valorização. É mais do que se tivesse adquirido na bolsa unidades do SPDR MSCI World UCITS ETF, pagando, por exemplo, 10 euros para comprar e para vender: 10,82%, assumindo a tributação máxima das mais-valias, à taxa de 28%.

É no curto prazo que está a miragem dos benefícios fiscais: quanto mais tempo passa, mais se diluem nos cálculos. Se a diferença de retornos entre o fundo de índice e o PPR da Casa de Investimentos se mantiver no futuro, a rentabilidade anual líquida de impostos da primeira escolha ultrapassa a do PPR após menos de uma década de investimento, assumindo as condições fiscais mais favoráveis para o PPR e mais desfavoráveis para o fundo.

Se o investidor do Save & Grow PPR/OICVM Founders conseguir metade da dedução máxima prevista pela subscrição, a opção pelo SPDR MSCI World UCITS ETF é mais generosa após 5 anos e meio, assumindo o ritmo de valorização das aplicações desde o lançamento do PPR.

Os números publicados pela Casa de Investimentos mostram que, em 15 anos, a sua estratégia de investimento rendeu menos 3,49 pontos percentuais por ano do que o seu índice de referência, o MSCI World, que o SPDR MSCI World UCITS ETF tenta replicar.

A classe Founders, reservada aos primeiros 2630 subscritores do Save & Grow PPR/OICVM e aos que tenham, pelo menos, 250 mil euros para investir, é mais económica do que a classe Prime, aberta aos restantes investidores.

Apenas um masoquista deveria investir no M3 Investimento PPR. Na subscrição, os investidores pagam até 5% do montante investido. Anualmente, a sociedade gestora, a BBVA Fundos, saca até 2% da carteira do fundo para as suas despesas. No reembolso, os aforradores pagam até 5% do valor resgatado, mesmo que o façam após a passagem à reforma por velhice. O M3 Investimento PPR incorpora as Carteiras BBVA Multi3stratégia, uma solução de gestão de fortunas que custa anualmente até 0,75% do património dos clientes do BBVA.

O desempenho de 6,62% por ano do M3 Investimento PPR entre 2020 e 2024 apenas inclui as comissões de gestão e de depósito. Todos os outros encargos são à parte. Se se contabilizarem essas despesas, a dedução máxima à coleta e a tributação mínima dos ganhos, a rentabilidade anual do M3 Investimento PPR desce para 3,62% por ano nesse quinquénio.

Tal como o M3 Investimento PPR, o BBVA Estratégia Investimento PPR é outro plano de reforma do BBVA que investe mais de 60% da carteira no mercado acionista. Tal como o M3 Investimento PPR, o retorno dos últimos 5 anos ficou muito atrás de uma carteira de fundos de índice que tenha uma exposição de 80% às ações.

O PPR Golden SGF Poupança Dinâmica investe normalmente 70% dos ativos nos mercados acionistas, mas pode estender a exposição até 99%. Contudo, enquanto a cotação deste PPR aumentou 22,57% nos 5 anos que terminaram no final de 2024, uma carteira com 75% no SPDR MSCI World UCITS ETF e 25% no iShares Core Global Aggregate Bond UCITS ETF EUR Hedged teria rendido 56,18%. O PPR conseguiu menos de metade dos ganhos.

Na carteira do PPR Golden SGF Poupança Dinâmica encontram-se algumas relíquias de maus investimentos do passado: ações do Banco Espírito Santo, resolvido pelo Banco de Portugal em 2014, e obrigações da Orey Antunes, que está em incumprimento. Agora, os gestores deste PPR investem quase exclusivamente adquirindo outros fundos de investimento. Recentemente, a sua maior aposta era no VanEck Gold Miners UCITS ETF, um fundo que investe nas ações de mineradores de ouro e de prata.

O seguro BPI Destino PPR 2040 é uma aplicação de ciclo de vida: privilegia os mercados acionistas, mas, à medida que se aproxima o ano de 2040, reduz essa exposição. Em 2040, não poderá ter mais de 30% em ações. Tem agora dois terços do património no mercado acionista via fundos de investimento.

A comparação do desempenho do BPI Destino PPR 2040 com uma carteira estável composta em 70% por exposição acionista é injusta. Quanto teria rendido nos últimos 5 anos uma estratégia que tivesse começado com 100% em SPDR MSCI World UCITS ETF em 2020 e reduzisse essa percentagem linear e anualmente até 66% em 2025? Muito mais do que o PPR: 10,67% por ano.

O Alves Ribeiro PPR/OICVM não pode ter mais de 40% do património exposto aos mercados acionistas, mas o perfil da restante carteira torna-o mais volátil do que uma simples carteira maioritariamente obrigacionista. Recentemente, tinha, por exemplo, títulos emitidos por nações emergentes, como Marrocos e Roménia, e muitas obrigações perpétuas, como as do CaixaBank, da BP e da Volskwagen.

Historicamente, o Alves Ribeiro PPR/OICVM teve alguns resultados impressionantes. Em 2012, por exemplo, rendeu 48,91%.

Desde então, os avanços são, todavia, mais modestos. Em 2023, ganhou 10,99%, mas tinha perdido 11,12% no ano anterior. Assim, o desempenho quinquenal do Alves Ribeiro PPR/OICVM ficou bastante aquém de uma carteira igualmente dividida entre o SPDR MSCI World UCITS ETF e o iShares Core Global Aggregate Bond UCITS ETF EUR Hedged.

O que deve fazer?

Apesar de se referirem aos PPR mais rentáveis do mercado, os parágrafos anteriores não são animadores. Se os melhores não conseguem bater sistematicamente uma simples carteira de fundos económicos, que motivos têm os portugueses para investir em planos de reforma?

Há, adicionalmente, outro problema: os mais rentáveis do passado não são garantidamente os mais rentáveis do futuro.

Há exatamente 6 anos publiquei o artigo “Quero um PPR. Qual escolher?”, a primeira análise sobre PPR no boletim tlim. O Alves Ribeiro PPR/OICVM apresentava a melhor rentabilidade dos 5 anos anteriores, de 6,85% por ano. Onde está agora esse PPR na lista das rentabilidades de 5 anos? Na 28.ª posição entre os produtos em comercialização.

Em 2019, não recomendei o Alves Ribeiro PPR/OICVM, nem qualquer outro PPR. Mantenho o que escrevi nessa edição:

“Não aconselho PPR à maioria das pessoas. São soluções que tendem a render muito pouco. Alguns cobram em excesso. As vantagens fiscais retiram completamente a flexibilidade do produto.”

A quatro meses de celebrar o quinto aniversário, o Save & Grow PPR/OICVM, um produto muito popular entre os subscritores do boletim tlim, candidata-se a líder. Não há, no entanto, garantias de se poder extrapolar essa recente liderança para o futuro. É possível que continue a ser o mais rentável. É possível que deixe de ser o mais rentável. É improvável que, no longo prazo, bata a economia de um fundo de índice de ações dos mercados desenvolvidos.

A minha recomendação é, portanto, não constituir PPR. Se já tem um destes instrumentos na sua carteira, vislumbro duas opções:

1. Resgatar. Se concorda com a minha análise, a decisão mais sensata é abandonar os PPR. Sugiro, porém, que o faça numa das condições previstas na lei, especialmente se beneficiou de deduções à coleta pela subscrição.

   A possibilidade mais frequente é usar o saldo do PPR para pagar as prestações do crédito à habitação do aforrador, desde que seja referente à sua habitação própria e permanente e que a subscrição tenha sido realizada há mais de cinco anos.

2. Transferir para um melhor. Um dos poucos pontos positivos dos PPR, a par dos benefícios fiscais, é a liberdade para movimentar as poupanças entre diferentes planos. O processo de troca de entidade gestora é simples e tem um encargo máximo de transferência de 0,5% do património transferido.

   A dificuldade desta decisão é eleger o melhor PPR. Não sei qual será o mais rentável nos próximos anos ou nas próximas décadas. Se tivesse de apostar, elegeria o PPR acionista mais barato. O Save & Grow PPR/OICVM Prime e o Invest Tendências Globais PPR/OICVM estão praticamente empatados neste domínio: as suas taxas de encargos correntes rondam 1,7% por ano.

   Há PPR com encargos correntes mais baixos, como o M3 Capital PPR, cujas comissões de gestão e de depósito somaram 0,25% do património em 2024, mas tendem a render menos.

   Nem todos têm, contudo, estômago ou horizonte temporal para investimentos completamente expostos às ações.

Antes de transferir, estude muito bem o seu produto: há algumas pérolas perdidas nas carteiras dos investidores mais velhos.

No início da década de 1990, a inflação escrevia-se com dois dígitos. Para conseguirem oferecer retornos reais positivos, os gestores dos PPR investiam em títulos de dívida que oferecessem juros mais elevados. Como esse rendimento era garantido se não houvesse falência dos emitentes, as sociedades gestoras prometiam elevados ganhos.

Ao folhear a imprensa do início da década de 1990 para preparar o livro Como Salvar a Minha Reforma, cruzei-me com um dos primeiros anúncios a PPR. A meio da página, a Império Seguros explicava o raciocínio para pagar menos impostos, que incluía uma “taxa estimada de rendimento médio” de 15%.

Nos primeiros anos, não falharam nas promessas: todos os PPR renderam mais de 10% por ano de 1990 a 1993.

Tecnicamente, um PPR que tenha adquirido obrigações com juros elevados e com maturidades extralongas, conseguiria acumular rendimentos de dois dígitos até ao vencimento desses títulos. É possível que seja o caso do Investimento e Poupança PPR, lançado em 1993: rendeu 11,50% por ano na última década. Lidera os retornos a 3 anos, 5 anos e 10 anos entre os 1017 PPR que analisei para este artigo.

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